"Stay Stay Stay"

Uma dos dois maiores problemas, pelo menos pra mim, de escrever qualquer coisa é como começar essa qualquer coisa. A primeira linha vem e vai mil vezes, tento usar todas os sinônimos possíveis para quase todas as palavras possíveis e nunca, NUNCA, consigo fazer um bom começo, que realmente me agrade (normalmente o texto todo não me agrada, mas o começo principalmente!). Por isso vou começar esse, apesar de já ter começado, direto no assunto, pulando as regras de um bom texto e indo direto para o desenvolvimento.
Estava pensando, cá com os meus botões, sobre desapego, não só com objetos mas com pessoas, momentos e coisinhas pequenas. Eu sempre tive muitos problemas em me desapegar das minhas coisas e não foram poucas as vezes que guardei embalagens, pedaços de papel, pequenos objetos e até mesmo grandes objetos, por achar que as pessoas que me deram aquilo ficariam magoadas de alguma maneira se eu me desfizesse dos "presentes". Me sentia muito triste ao imaginar que se jogasse alguma coisa fora, por mais inútil e sem sentido que fosse, alguém poderia ficar mais triste ainda, então guardava.
Brinquedos... Bom, esses eu confesso que até hoje guardo! Não todos, mas, dos que sobraram, fiz uma "pequena" seleção e os guardei em uma caixa. Meus bichinhos de pelúcia não ficaram para trás, tirando os que dei de presente, por algum motivo e para alguém que com certeza merecia, todos os outros estão guardado em segurança. Pode parecer a coisa mais ridícula do mundo mas não consigo me desfazer deles. (PS: estou melhorando muito nisso! Nessas férias fiz uma faxina de horas e consegui me livrar de várias coisas, não de todas, mas boa parte!)
Por um lado esse apego todo é bom: consigo manter algumas memórias bem vivas na minha mente! Por outro lado isso é péssimo, me faz pensar em como sou péssimo para me desapegar. Acho que tudo tem uma explicação, talvez a minha seja pelo fato de achar que as pessoas não duram muito tempo umas com as outras e por isso acabo refletindo nos objetos, já que eles não tem a opção de levantar e ir embora. Talvez se conseguisse ter um desapego material mais bem sucedido, eu não sofresse tanto com as pessoas que partem, mas não sei... Talvez essa seja a maior estupidez que já disse.
"Pessoas que partem" é só mais um desapego que preciso praticar, não consigo trabalhar bem com isso, acho que já cansei de pessoas que partem da minha vida (mesmo não tendo controle algum sobre isso!). Sou do tipo que chora em toda despedida, que chora e diz que "nunca mais nos veremos, eu sei disso!", coisa que, quase sempre, acontece. Na faculdade eu acho que isso só ficou pior, uma vez que a frequência de pessoas partindo é bem maior. Alias, começa no colegial, você está acostumado com os seus amigos de sempre, com a sua vida de sempre e de repente todo mundo foi embora e sua via mudou, simples assim.
Partir é uma palavra forte, acredito eu. Não consigo ver algo muito alegre relacionado. Se pensar em uma cor para relacionar, vai sempre ser uma escura. Se pensar em uma música, uma triste. Em um filme, um drama. Mesmo o parto (o ato de parir), que é um momento mágico, tem um lado assustador (pensando no sentido de partir): até então a criança estava no lugar mais seguro do universo, protegido pela melhor segurança do mundo e recebendo o melhor e mais sincero carinho do cosmos, de repente a mãe precisa abrir mão de tudo isso e colocar o pequenino no mundo.
O meu desapego não funciona com pessoas também. Consigo me apegar muito fácil, mas desapegar é quase uma guerra civil dentro de mim. Já me "sacrifiquei" por outras pessoas e não recebi nada em troca ou tratei pessoas da melhor maneira que alguém pode ser tratado e ainda consegui sair de chato. Deveria praticar o desapego com pessoas assim... Mas nessas horas eu lembro das embalagens ou dos papeis sem sentido, guardados dentro de alguma caixa na casa da minha mãe, respiro e penso que uma hora as coisas se acertam e a pessoa vai reconhecer.
Enfim... Sou péssimo em me desapegar das coisas, das pessoas, de alguns momentos, tenho certeza que isso não é bom, mas mesmo assim não consigo. Me apego demais mesmo acreditando que as pessoas não se apegam muito as outras e que nada dura muito. Como já disse, acho que me apego tanto justamente por acreditar nesse desapego quase universal das pessoas.
Comecei isso falando que um dos dois maiores problemas de escrever alguma coisa é começar. Bom, um deles é começar o outro é terminar. Adoro usar "em suma", "em resumo" ou "em síntese", o problema é que nunca sei o que combinar e encerrar o texto, que muito provavelmente eu não gostei. Em suma era isso, um pequeno desabafo noturno sem sentido.

Comentários

ART disse…
Puxa, que coisa bonita! Eu nem sabia que vc havia voltado ao blog...
Essa coisa do desapego é mesmo difícil, pois as coisas não são apenas coisas, são partes da história de cada um... não fosse esse poder das "coisas", não haveria memória. No romance do Proust, ele molha um biscoitinho no chá, e temos oitenta páginas de rememoração. Mas você está certo: é preciso selecionar, senão a vida vira um amontoado. Você se deu conta disso agora, pois está com vinte anos, e já tem um bocado de coisa guardada. Imagina eu, aos 35... Mas a gente, no fundo, sabe bem o que deve ser guardado, e o que pode ser reciclado. Quanto às pessoas, é a mesma coisa: elas vêm e vão, mas sempre vai ter quem fica. Acho que é bom também, quem tem muitos amigos, não tem nenhum, de fato. Bem, sei lá, o post é seu, não vou escrever outro aqui! De todo modo, gostei do post, bem escrito e bem profundo. Continue a escrever, sempre que for possível, dou uma olhadinha nas suas empreitadas literários. Bisous...

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